
Tomei um susto quando vi na minha time line, há uns dias atrás, um post que anunciava, divulgava e ou informava sobre um concurso de miss capoeira !!! hein¿¿¿ imediatamente imaginei que fosse alguma notícia antiga, fake news ou coisa parecida… deu nervoso.
Mas… pasmem! Eram atualíssimos o post e o concurso tb! Como se diz por aqui no maranhês … Canalhice pouca é bobagem, como se não faltasse mais nada, o flyer do evento que anunciava o concurso da “mais linda e talentosa capoeira”, tinha a chancela da Lei Aldir Blanc, verba pública.
Por instantes, a memória foi ativada pelo túnel do tempo e lembrei de um acontecimento no início da vida de capoeira que me fez entender o porquê do meu espanto e a sensação de deja vu que me tomou no momento me causando perplexidade.
Impressionante perceber o retrocesso em que vivemos e seus reflexos em várias questões que comprometem conquistas e fortalecem o sexismo e objetificação desse ser capoeira mulher ao longo do tempo. Pensava que esse tipo de concurso na capoeira e em outras atividades já não existiam mais. Que nada! Depois de quase 30 anos, eis que eles surgem da lama.
Eram idos de 1995 na Escola de Capoeira Angola do Laborarte da qual faço parte até hoje quando soubemos de um concurso que aconteceria na cidade promovido por um dos grupos de capoeira existente na época, no qual, o objetivo era eleger “A Mulher capoeira”. Pensamos, eu e as manas, que integravam a escola, que seria o máximo ver mulheres jogando, tocando e fazendo malabarismos …. mostrando suas habilidades na arte. SQN!
Seguimos empolgadas para o tal evento e chegando lá fomos tomadas pela surpresa e paralisadas por um tempo até entendermos do que se tratava … já era o final do concurso e nos deparamos com as meninas , bem novinhas, todas de biquínis, enfileiradas numa passarela com faixas transpassadas no corpo com a escrita em lantejoula “MULHER CAPOEIRA”, uma plateia que gritava o “ já ganhou” e uma mesa com os JURADOS , todos homens graduados na hierarquia da capoeiragem.
Decepcionadas, incrédulas e brabas, partimos pra cima com vaias e gritos de ordem denunciando que aquele concurso era uma aberração, que nada tinha a ver com a capoeira e que aquelas meninas estavam sendo usadas por não entenderem ainda que não precisavam daquele “passaporte” para tornarem-se capoeiras! Tal confusão e gritaria terminou com a passarela quebrada e tivemos que sair rapidamente do local por conta das ameaças de raspa e tudo mais …
Saímos de lá encapoeiradas, sentamos num bar e no meio de tantas emoções, por conta de outras questões que tomávamos consciência na época, demos vasão a ideia de criar um grupo de mulheres que dessem visibilidade a partir daquele momento às mulheres que praticavam capoeira na perspectiva e lugar que lhe eram merecidos por conquistas! É na década de 90 que surge o grupo Mulheres Capoeiras que ao longo do tempo teve outras florações e objetivos. Atualmente o movimento iniciado na década de 90 segue trincheira e é representado pelo Coletivo Angoleiras de Upaon Açu.

Texto de Samme Sraia: capoeirista, produtora, mestra da Escola de Capoeira Laborarte, cofundadora do Coletivo Angoleiras de Upaon Açu
Ué vcs podem tem um movimento , e não aceita q seja criado um concurso kkkk cadê o respeito
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Amei o texto, infelizmente este tipo de coisa, diminuição,menosprezo demora muito para acabar, porém depois que surgiram mulheres dispostas a denunciar, melhorou bastante.
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Que as mulheres se emponderem e se fortaleçam cada vez mais para não se permitir a tais situações e sim ensinar através de exemplos conscientes que não se há mais espaço pra essa prática machista dentro da capoeira e em lugar algum.
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Na minha opinião, o maior problema dessa situação são as verbas públicas sendo usadas para esse fim. Esse tipo de concurso não agrega em nada ao coletivo e só massageia o ego de alguns, além de criar um padrão de beleza.
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