1ª Roda de Samba de Mulheres em Itapuã

As Marias Felipas têm muita satisfação em divulgar esse trabalho tão bonito e importante das Filhas do Mar, que promoveram a primeira Roda de Samba de Mulheres em Itapuã (Salvador-BA). A seguir, a carta aberta destas corajosas mulheres, que temos muito prazer em compartilhar e inspirar outras mulheres com este lindo relato!

Axé e muita força!

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Roda de Samba de mulheres

    Nós, coletivo Filhas do Mar, viemos por meio desta carta abordar algumas questões que envolvem a figura da mulher no meio do samba. Algumas discussões já faziam parte do nosso dia a dia, outras surgiram no decorrer do processo de organização da I Roda de Samba de Mulheres em Itapuã, que homenageou uma mulher forte de Itapuã, Dona cabocla, que promovia em sua casa uma série de eventos de samba em que ela cantava, encantava e sambava como ninguém. Valorizamos uma mestra da cultura popular e ao mesmo tempo também não nos conformamos com as condições que mestres e mestras se encontram no nosso país, com a falta de políticas públicas e valorização por parte da população. Estes são nossos tesouros que cada vez mais perdem respeito diante de uma sociedade que não valoriza as tradições e os conhecimentos ancestrais e da nossa cultura.

    Nesse contexto, essa roda surge com intuito de fortalecer a participação das mulheres nas rodas de samba e destas no bairro de Itapuã, sem intuito comercial, o que dificultou em alguns momentos, como por exemplo, o pagamento de cachê das envolvidas.

    A roda, portanto, buscou realizar um ato político em defesa da visibilidade da mulher no samba. É importante registrar que as mulheres deste coletivo se organizaram de forma voluntária e autogestionária, das instrumentistas às que atuaram na produção deste evento, nós não estamos preocupadas com um retorno financeiro, mas em fortalecer o movimento feminino no samba.

    Infelizmente, durante o processo, percebemos que nós mulheres também nos boicotamos, seja com nossa insegurança, seja humilhando outras mulheres ou até fazendo comentários que diminuem umas as outras. Nesse sentido, refletimos que ainda precisamos discutir sobre sororidade entre as mulheres com intuito de potencializar a nossa união e a força do feminino.

   Ao longo do processo de construção deste evento discutimos sobre a invisibilidade da mulher e da mulher negra em especial, de maneira atuante no meio do samba. Encontramos uma certa dificuldade em encontrar mulheres que tocam harmonia e nos perguntamos, porque as mulheres não estão ocupando esses espaços?

    Todas as mulheres que pegaram o microfone para cantar deram seus recados sobre a importância daquela reunião. Houve um momento em que uma das participantes falou ” aposto que toda mulher que está aqui sentada nessa mesa já passou por algum momento de preconceito no meio da música, do samba, e essa roda é uma forma de mostrar que nós podemos fazer samba, para nos empoderar, pois temos esse poder” e foi marcante, pois todas afirmaram com a cabeça, olharam para baixo e se lembraram das humilhações e exclusões que já vivenciaram.

   Compartilhamos experiências vividas de preconceitos e também de acolhimentos por parte dos homens. E esse foi um dos pontos de reflexão constante, pois, apesar de querermos valorizar a presença da mulher, não podemos excluir os homens, devemos agregá-los e principalmente valorizar aqueles que sempre nos acolheram e que são, também, nossas referências. Convidamos alguns homens pontuais, no entanto, no momento da roda, estes se recusaram a participar argumentando que a roda era de nós, mulheres, que estava linda, e que deveríamos seguir até o fim assim. O único homem a participar foi o Dono da Casa, o mestre Reginaldo, que cantou uma das suas composições em homenagem a Dona Cabocla.

    Com o protagonismo das mulheres nessa roda de samba, honramos a memória de Dona Cabocla e de toda a linhagem feminina do samba. Compartilhamos experiências, vivências, ideias, reflexões e acima de tudo, o amor pelo Samba! Foi lindo ver aquela roda girar, acolhendo mulheres diversas, alternando os instrumentos, as vozes e as pessoas. Foi mágico! Todos saíram de lá com gostinho de quero mais! Muito mais que um evento, foi um ato político em prol do fortalecimento da participação feminina no cenário do samba. Parabéns mulheres!!! Vocês arrasaram!

 

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Fotos de Asa Gustavii

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Coletivo Filhas do Mar

O coletivo Filhas do Mar surge em 2017, após alguns episódios de machismo com integrantes do coletivo. Este é um grupo de mulheres que se uniu com intuito de fortalecer o poder feminino no meio da música, principalmente do samba. A ideia do coletivo é reunir mulheres que toquem ou queiram aprender no sentido de empoderá-las para atuarem nos espaços culturais.

4 comentários em “1ª Roda de Samba de Mulheres em Itapuã

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